Quando tu partiste eu sentia-me como se já não conseguisse pegar num lápis e escrever. Eu queria escrever-nos porque nos sentia falta. Talvez esse tenha sido sempre o nosso maior problema, nenhum dizia aquilo que pensava com medo de magoar o outro. E, talvez por isso, eu tenha escolhido escrever o nosso amor a lápis, ou talvez porque não gosto de escrever a caneta.
Um dos bens que tem escrever é podermos dar vida a personagens e construí-las como queremos. Inventamos um principio, meio e fim e sabemos mais sobre elas do que sobre nossos conhecidos, pessoas por quem passamos todos os dias, um professor, um colega de turma. Mas, eu nunca escrevo a caneta, para, se for necessário, ter a possibilidade de alterar a vida das personagens.
Escrevi o nosso amor a lápis, talvez para fazer o mesmo se alguma coisa corresse mal. E fi-lo, apaguei tudo aquilo que escrevi, vezes e vezes sem conta, a folha que transportava o nosso amor rasgou ao apagar.
Nós não temos controlo sobre a nossa vida, não conseguimos mudar aquilo que já aconteceu. E isso saturou o nosso amor, porque, sempre que acontecia alguma coisa, nós olhávamos em frente sem nos preocuparmos em atar os nós que ficaram soltos para trás. A certa altura, os problemas do passado intrometeram-se no nosso caminho, e nós não fomos fortes o suficiente para os contornar, porque estávamos ambos cansados.
Tu desististe do nosso amor muito cedo. E eu fui forçada a fazê-lo também, porque lutar sozinha não tem lógica, e não tinha nada contra que lutar se não estivesse acompanhada. Hoje sei que fiz bem. E voltei a escrever. Escrevo aquilo que vejo, que vivo, com um pouco daquilo que consigo imaginar. Tornou-se mais fácil. Tornou-se mais fácil porque não espero que leias.

ficticio

1 comentário:

Bárbara M. disse...

sim, é horrivel :s

gosto imenso do textinho *-*